Herança bendita - A H-D Heritage traz visual e detalhes clássicos ao lado de um projeto moderno de chassi e motor. O resultado é bom na cidade e melhor ainda na estrada
Por: Eduardo Viotti
Heritage tem o significado literal de herança, em português. Mas os norte-americanos também usam a palavra como sinônimo de tradição, legado. Algo que a Harley-Davidson valoriza e preserva. A Softail Heritage Classic que avaliamos nesta edição é uma das mais interessantes motocicletas da marca.
Para começar, ela figura entre as touring na escalação do fabricante, embora seja montada sobre o chassi Softail, intermediário em termos de tamanho, e o mais moderno da gama Harley-Davidson. Olha, se você gosta do velho estilo clássico H-D e dos clubes de proprietários que promovem viagens longas e encontros festivos, mas ao mesmo tempo aprecia uma moto moderna, relativamente leve e bastante segura, a Heritage Classic é boa pedida.
Esse nome era aplicado a uma versão de chassi Dyna, que morreu com a readequação da gama H-D em 2018. A Heritage perdeu então muitos cromados e os pneus faixa branca, substituídos por acabamento dominante em preto. Em compensação, tornou-se uma moto muito superior.
O mais legal dela é a versatilidade de uso. Para começar, não é tão pesada quanto uma H-D de chassi touring e usa o mesmo motor (na maioria dos casos), o potente Milwaukee-Eight de 114 polegadas cúbicas, cerca de 1.868 cc de cilindrada. Assim, vai bem na cidade, com menor ângulo de esterço em espaços exíguos e a agilidade e maneabilidade do chassi Softail, monoamortecido.
Para uso urbano e diário, o vasto para-brisa pode ser removido sem a necessidade de ferramentas, com muita facilidade. Já os alforjes laterais rígidos, de plástico forrado de couro preto com pespontos tacheados (como os bancos), não são tão fáceis de remover. Podem sim ser retirados, mas não é uma operação imediata: a remoção exige soltar dois parafusos dentro das malas –que têm fechaduras chaveadas. Sem a bolha e sem as malas, a Heritage fica bem melhor para o uso diário, esguia para o trânsito, veloz e fácil de tocar.
Ao mesmo tempo, tem inegáveis qualidades estradeiras, a começar pelos próprios alforjes, que têm boa capacidade de carga e mantém as roupas e eletrônicos secos mesmo sob chuva intensa, e o amplo para-brisa, que não atrapalha a visibilidade e desvia o fluxo principal de vento (e de chuva, garoa etc.) por cima do capacete. Os faróis auxiliares também entram nessa linha de crédito às capacidades estradeiras da Heritage, aumentando consideravelmente a segurança em viagens noturnas.
As plataformas para apoio dos pés em lugar de pedaleiras convencionais também são para a longa estrada. Nelas é possível variar a posição das pernas e reduzir tensão e cansaço. Se você gosta de brincar em curvas, vai aprender a conviver com o ruído delas raspando no asfalto…
Os para-lamas grandes e envolventes são igualmente valiosos para uma travessia de chuva em viagem. São adornados com frisos e emblemas que remetem ao passado da marca. A calota da roda dianteira e as capas das bengalas também são saudosistas, assim como os suportes dos faróis auxiliares e dos piscas, cromados. A placa fica sobre a lanterna traseira, exageradamente exposta. Os policiais de trânsito devem adorar, mas a gente aqui acha meio estranho…
As rodas, ambas de aros 16, têm aros de alumínio e raios cromados, numa combinação clássica e elegante.
O instrumento único fica sobre o tanque, ao final de uma tira de couro que protege a pintura contra riscos. É um velocímetro de ponteiro, muito bem acabado como de praxe na marca. Incorpora um pequeno LCD de fundo escuro, que é um computador de bordo e tem um monte de informações úteis, como tacômetro, odômetros, relógio etc.
As suspensões continuam sem regulagem na frente, embora sejam reguláveis na pré-carga de mola atrás. Os percursos de ambas são adequados a pisos de boa conservação, coisa rara de encontrar aqui na latitude brasileira. Mesmo assim, ajudadas por bancos macios e muito bem desenhados, proporcionam conforto e uma estabilidade insuspeitada. O uso de pneus de perfil alto também eleva a maciez.
Quanto ao desempenho de motor, a Heritage Classic versão 114 esbanja aceleração e retomadas. O torque em médias rotações gera um empuxo considerável. Em faróis e saídas de pedágio não tem pra ninguém. Em um mundo coalhado de radares, é a diversão que nos resta, fora das pistas.
Na maciota, andando com muita prudência, dentro dos limites legais, dá para chegar a 18 a 19 km/litro. Mas “torcendo o cabo” a coisa pega e o tanque esgota mais depressa, com autonomia na casa de 14 km/l.
O preço, de 109,25 mil reais (Fipe), é de artigo de luxo, mas sem concorrentes de mesma proposta no mercado.
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