Como protagonistas ou coadjuvantes, as motos fazem parte da história do cinema. Veja alguns filmes –e motos– que marcaram época
Por: Gabriel Marazzi
Você acordou com aquele barulho de chuva forte? Bem no fim de semana em que aquela escapadinha de moto estava programada? Você tem duas opções: sai na chuva mesmo, para poder falar para todos que é um motociclista “raiz”, ou fica em casa e aproveita pra colocar em dia aqueles “filminhos” que sempre quis ver. Ou rever. De um modo ou de outro, o fim de semana não está perdido: ou será uma aventura bem molhada, ou então uma viagem segura e seca, em frente à telinha.
Já que a escolha foi a mais confortável, vamos aproveitar para lembrar quais são os melhores filmes em que as motocicletas fazem parte da história. Às vezes como protagonista, às vezes como o veículo preferido do protagonista, ou mesmo em uma apariçãozinha menor, nenhum de nós vai deixar de notar nossas amigas de duas rodas em qualquer uma das cenas.
TOCANDO O TERROR
Há muitas, mas muitas mesmo, motocicletas espalhadas pelos filmes, de todas as épocas. Vamos começar com um clássico dos anos 50, “O Selvagem” (The Wild One, 1953). Marlon Brando estrelava esse filme, interpretando um motociclista rebelde que aterrorizava pequenas cidades do interior dos Estados Unidos. Sua motocicleta era uma Triumph Thunderbird 6T 1950, adornada por um troféu amarrado sobre o farol, que ele havia roubado ao invadir uma corrida de motos e se declarar vencedor. Ingênuo, até, para os dias atuais. De acordo com o que se publicou na época, essa motocicleta era mesmo de propriedade de Marlon Brando.
FINAL TRÁGICO
Já nos anos 60, o filme “Lawrence da Arábia”, de 1962, foi uma daquelas grandes produções de Hollywood. Nessa história real, Peter O’Toole fez o papel principal, de um oficial inglês que liderou tribos árabes na luta contra os turcos, durante a Primeira Guerra Mundial. No filme, ele pilota uma Brough Superior SS100 de 1932, que realmente era a motocicleta preferida do militar, na vida real. Lawrence morreu em um acidente com sua moto ao tentar desviar de dois garotos em suas bicicletas.
Era a oitava Brough Superior SS100 que o tenente inglês possuía e ele já havia encomendado a nona, que só ficou pronta após a sua morte, em maio de 1935. A Brough Superior SS100 era considerada a melhor motocicleta do mundo, a “Rolls Royce” das motocicletas, e seu valor atualmente ultrapassa os vários milhões de dólares. Até hoje, muitos acham que o Oscar recebido deveria ter sido entregue para a motocicleta e não para o ator. O mais irônico é que ela aparece muito pouco nas quase quatro horas de filme e, logicamente, a motocicleta utilizada nas filmagens não era uma Brough Superior, mas sim uma Triumph SD.
No próximo filme há uma cena com motocicleta que pode ser a mais famosa de todas, mesmo se tratando de um filme de guerra: “Fugindo do Inferno” (The Great Escape, 1963). Nesse filme, Steve McQueen tenta fugir de um campo de prisioneiros durante a Segunda Guerra e, em uma dessas tentativas, ele salta sobre uma cerca de arame farpado com uma motocicleta roubada dos militares alemães. O interessante é que a motocicleta deveria ser alemã, uma BMW ou uma Zundapp, mas McQueen, que não usou dublê na maioria das cenas, fez questão de utilizar nas filmagens a sua preferida, a inglesa Triumph TR6S Trophy. Disfarçada, é claro! Naquela cena em particular, o dublê foi o piloto Bud Elkins.
Entre os divertidos filmes protagonizados por Elvis Presley, em “O Carrossel de Emoções” (Roustabout, 1964) ele pilota uma Honda CB77, do mesmo ano do filme. Essa motocicleta com motor bicilíndrico de 305 cm3 também era conhecida como Super Hawk e foi início da muito bem sucedida família CB da marca japonesa.
O MAIS FAMOSO
Não poderia deixar de comentar o filme de motocicletas mais famoso de todos os tempos, “Sem Destino” (Easy Rider, 1969), apesar de que tanto se falou a respeito desse filme, que já esgotou o assunto. Nele, Peter Fonda percorre as estradas norte-americanas com sua Harley-Davidson customizada, que ele chamava de “Capitão América”, acompanhado de seu amigo, vivido por Dennis Hopper, e seu garupa-carona, personagem de Jack Nicholson. Há muita polêmica em torno das muitas Harley preparadas para o filme, sobre o modelo Hydra Glide de 1952. Diz-se que as que sobreviveram às filmagens foram roubadas e depois recuperadas; diz-se também que muitas réplicas foram construídas depois e algumas se passam atualmente por verdadeiras.
Outro filme no qual as motocicletas são parte muito importante da trama é “Mad Max”, de 1979. O policial Max, vivido por Mel Gibson, pilota seus Ford Falcon modificados, mas seu parceiro Goose circula com uma Kawasaki Z1000 de 1977. Com a perna quebrada, ele é visto pilotando uma Suzuki 250 tricilíndrica. Toecutter, o vilão da história, pilota uma Kawasaki Z900 de 1974.
No filme “Rambo” (First Blood, 1982), Sylvester Stallone rouba uma Yamaha XT 250 para fugir do obtuso xerife que o persegue, mas na edição trocaram o som do motor quatro tempos dessa motocicleta pelo som de um motor dois tempos. Parece que o pessoal de Hollywood gosta muito dos motores dois tempos, pois esse é um expediente comum em alguns outros filmes.
Novamente uma motocicleta domina a cena em um filme de Hollywood. Desta vez foi o “Exterminador do Futuro 2” (Terminator, 1991), filme que popularizou a Harley-Davidson Fat Boy, então recém-lançada. Com essa motocicleta, na cena mais empolgante do filme, Arnold Schwarzenegger salva um garoto com uma Honda XR 125 de ser esmagado por um caminhão.
DESAPARECERAM
O filme “Pulp Fiction”, de 1994, traz apenas uma cena com moto, quando Bruce Willys rouba a Harley-Davidson FXR Super Glide do quase defunto Zed. O nome da motocicleta, pintado no tanque, é Grace. Aí é que essa mania de prestar atenção nos detalhes vale a pena: quase ninguém viu que, quando Butch sai da loja com a moto, ela tem dois carburadores Weber ou Dell’Orto saindo para fora do filtro de ar, que está lá apenas como figuração, mas quando ele chega em casa, a moto não tem mais esses carburadores. Seriam duas motocicletas muito parecidas? Ou os carburadores deram pau entre as cenas e tiveram que ser retirados?
No filme “O Amanhã Nunca Morre” (Tomorrow Never Dies), de 1997, o James Bond Pierce Brosnan faz o diabo com uma BMW R1200C Cruiser pelos telhados chineses, com uma mão amarrada em sua parceira de garupa. Esse filme mostrou a primeira custom da marca alemã, a Cruiser, que era muito estilosa, mas ruim de ser pilotada. Só que agora a motocicleta é extremamente cult, bastante procurada por colecionadores.
No filme “Diarios de Motocicleta”, de 2004, Gael Garcia Bernal, na pele do guerrilheiro Che Guevara, leva uma Norton 500 1939 por caminhos muito difíceis pela América Latina de 1952.
Em “Desafiando Os Limites” (The World Fastest Indian, 2005), o piloto neo-zelandês Burt Munro, vivido por Anthony Hopkins, estabelece o recorde mundial de velocidade no lago salgado de Bonneville, em 1967, com uma Indian Scout de 1920. É uma história real.
Alguns filmes são totalmente centrados nas motocicletas, como o road movie “Mammuth”, de 2010, no qual o aposentado vivido pelo francês Gérard Depardieu cruza o país com sua desconhecida Münch 4TTS 1200 de 1969, cujo apelido é o nome do filme.
Alguns filmes misturam motocicletas com música. Em 1979, o conjunto britânico de rock The Who musicou o filme “Quadrophenia”, ambientado nos anos 60, e que mostra os jovens ingleses e seus grupos de amigos. Dois grupos rivalizavam, os Rockers, que rodavam pela cidade com suas motocicletas no original estilo Café Racer, e os Mods, que tinham Vespas e Lambrettas exageradamente equipadas com penduricalhos. O cantor Sting, pouco antes de fazer sucesso com o grupo Police, é um dos Mods.
Juntando motocicletas com outro assunto muito interessante, “O Cavaleiro do Tempo” (Time Rider, 1982) conta a história do personagem de Fred Ward, um um piloto de cross country que vai treinar no deserto com sua Yamaha XT 500 de 1977 e atravessa inadvertidamente por uma máquina do tempo experimental, indo parar no Velho Oeste. Causando alvoroço em uma época em que os pistoleiros a cavalo não conheciam as motocicletas, ele acaba se envolvendo com sua bisavó.
Por fim, um pouco de comédia. Uma motocicleta muito intrigante era a do Batman, do seriado trash de 1966. Levando o menino prodígio Robin ajoelhado em um side-car, a moto sempre pareceu muito imponente, até ser revelado que se tratava de uma Yamaha YDS3 Catalina do mesmo ano do seriado, cheia de adereços. No segundo ano da série, a bela BatGirl corre atrás de vilões com uma motocicleta igual, só que um ano mais nova do que a do Batman, uma Yamaha YDS5 250 de 1967.
OS TRÊS PATETAS
Para finalizar, mais comédia. Em um episódio antológico do seriado “Os Três Patetas”, entre as centenas que o trio de seis produziu (“trio de seis” é para quem curte os Três Patetas), há um em que eles precisam mostrar uma lata de comida para seu cavalo acompanhar e conseguir correr no hipódromo. E para tanto utilizam uma bela Harley-Davidson Hydra-Glide com side-car para circular a pista ao lado do animal. Você até pode não gostar dos Três Patetas, mas certamente vai gostar dessa Harley.
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