Por: Ricardo Couto
Show man - O americano meio maluco empolgou a plateia nos anos 80 e, com seu carisma, foi ídolo de uma geração de pilotos
Ele não conquistou nenhum Campeonato Mundial de MotoGP, mas deu muito trabalho para pilotos experientes e grandes lendas do motociclismo –e fez a alegria da torcida com sua tocada agressiva e acrobacias exibidas nas corridas. O carismático norte-americano Randy Mamola ficou celebrizado por sua forma descontraída de pilotar e o modo espetacular como atacava seus adversários, sempre no pelotão da frente. E por saber levantar a arquibancada.
Mamola foi um corredor que andava sempre no seu limite: entrava nas curvas derrapando de traseira e, por conta disso, às vezes era surpreendido pelas reações intempestivas da moto. Quando vencia uma prova, costumava comemorar empinando a máquina e jogando suas luvas e acessórios para a plateia, levando o público ao delírio. Para quem não teve o privilégio de vê-lo em ação, sua forma de celebrar a vitória inspirou vários pilotos, entre eles o divertido e igualmente carismático multicampeão italiano Valentino Rossi.
Mamola era uma espécie de sombra de pilotos famosos, como Wayne Gardner e Eddie Lawson, aos quais fazia uma caça implacável durante cada temporada. Essa obstinação lhe garantiu quatro vice-campeonatos mundiais da MotoGP (1980, 1981, 1984 e 1987), sendo os dois primeiros anos pela Suzuki e depois pela Honda e pela Yamaha, respectivamente. Em 14 anos de carreira na categoria de 500 cc (não disputou a temporada de 1991), esteve entre os 10 melhores pilotos na classificação em 10 temporadas, subindo 54 vezes ao pódio e assegurando 13 vitórias, 22 segundos lugares e 19 terceiros na classificação geral.
Dois momentos espetaculares marcaram a sua carreira na MotoGP. O primeiro aconteceu durante o Grande Prêmio de San Marino de 1985, em Misano, na Itália: ele entrou muito forte numa curva, derrapou de traseira, e a moto chicoteou, lançando-o para fora do assento. Mamola bateu com um dos pés no asfalto, foi lançado quase que deitado sobre o guidão, saltou para o outro lado da moto, tocou o chão, e ficou pendurado, em pé, na pedaleira lateral enquanto saia pela área de escape. Após alguns segundos de susto contorcionismo, voltou ao assento da moto e entrou novamente na pista, terminando a corrida na terceira colocação.
O outro foi durante o GP da França de 1986. Num lance espetacular, totalmente imprevisível (não se sabe exatamente o motivo), em Le Mans, já muito atrás do líder Eddie Lawson e bem à frente do terceiro colocado, Mamola deixou momentaneamente a pista, empinou sua moto ao contrário (um nose wheeling, ou RL, só com a roda da frente apoiada no chão) na área lateral do asfalto e voltou para a pista, para a surpresa e delírio de todos. E ainda assim conseguiu terminar em segundo lugar. Por essa atitude inusitada, chegou a ser dispensado de sua equipe pelo chefe Kenny Roberts (outro monstro sagrado do motociclismo), que depois reconsiderou a decisão e o reconduziu ao seu posto no time.
A CARREIRA
Nascido em novembro de 1959, em San Jose (Califórnia, nos Estados Unidos), Mamola começou a andar de motocicleta aos 12 anos, quando se interessou pelas corridas de pista de terra batida. Mesmo com sua baixa estatura conseguia superar pilotos mais velhos. Aos 14 anos, estreou em provas de estrada, pilotando uma Yamaha TA 125.
Depois de completar 16 anos, ganhou experiência em pistas no exterior e, em 1979, aos 20, estreou no Mundial de MotoGP. Na primeira metade da temporada, disputou a categoria de 250 cc pela Yamaha, obtendo o quarto lugar na classificação. Na segunda, pilotou uma Suzuki na categoria de 500 cc, ficando em oitavo no ranking final. Depois disso, ele correu como piloto de fábrica da Suzuki (de 1979 a 1983) e da Honda (1984 a 1985), mantendo-se sempre perto do topo da classificação. Em 1986, voltou para a Yamaha e juntou- se à equipe de Kenny Roberts, conseguindo uma vitória, quatro segundos postos e dois terceiros lugares.
Em 1987, ainda pela Yamaha, Mamola fez a melhor temporada da sua carreira, quando obteve três vitórias, cinco segundos lugares e quatro terceiros, ficando atrás de Wayne Gardner (Honda). No ano seguinte, deixou a Yamaha para se juntar à Cagiva, equipe que defendeu por três anos (1988, 1989 e 1990), sem muito sucesso. Em 1991, se afastou do circo da MotoGP. Em 1992, voltou a pilotar uma Yamaha YZR 500, desta vez em sua própria equipe, e terminou sua última temporada em 10º lugar na classificação, obtendo o pódio final de sua carreira no GP da Hungria.
Após se aposentar das corridas, Mamola continuou como piloto de teste da Yamaha por mais alguns anos e ajudou a desenvolver motocicletas e pneus para o MotoGP. Mais tarde tornou-se comentarista de TV e colunista de várias publicações na cobertura de corridas da categoria máxima do motociclismo. Seu nome será sempre lembrado como um dos melhores pilotos de sua época e como um dos preferidos dos fãs na história da motovelocidade.
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