Marca indo-britânica é a mais antiga do mundo em produção ininterrupta
Por: Gabriel Marazzi
Você sabe qual é a marca de motocicleta mais antiga? Se disse Hildebrand & Wolfmüller, acertou, essa foi a primeira motocicleta de produção seriada a ser vendida ao público, em 1894. Mas não é essa empresa o tema desta história, até porque ela não durou muito tempo –encerrou atividades em 1919–, mas sim de uma marca já nossa conhecida que produziu sua primeira motocicleta em 1901 –e segue produzindo até hoje, sem interrupção. Claro, estamos falando da Royal Enfield.
Em 1894, quando a primeira motocicleta saiu de suas oficinas, a Royal Enfield já existia havia alguns anos, produzindo desde 1891, bicicletas, máquinas de costura e componentes de precisão para rifles, com o nome de Townsend Cycle Company.
O nome atual veio logo em seguida; o primeiro adotado foi Enfield Manufacturing e, incorporando parte do nome da empresa de rifles Royal Small Arms, acaba por resultar Royal Enfield. Foi nessa ocasião que a empresa registrou o slogan “Made like a gun” ou “Feita como uma arma”, em inglês, expressão utilizada até os dias de hoje.
Em 1898, R. W. Smith construiu um protótipo de veículo motorizado, de quatro rodas, um quadriciclo, equipado com um motor francês De Dion.
A primeira Royal Enfield foi produzida em 1901, seguindo o projeto de Bob Walker Smith e do francês Jules Gotiet. Essa motocicleta tinha um motor Minerva de 1,5 cv montado no garfo dianteiro, ligado à roda traseira por uma longa correia de couro. Em 1909, o primeiro motor V2 da Royal Enfield é lançado. Esse motor era uma unidade de 2,25 cv feito pela companhia suíça Motosacoche.
A primeira moto da marca com motor dois tempos começa a ser produzida em 1914, mas os esforços industriais são todos destinados à participação da Grã-Bretanha na 1ª Guerra Mundial. Isso faz a empresa interromper a fabricação de sua maior moto, com motor V2 de 770 cc e 6 cv.
Em 1924, a Royal Enfield mantinha oito modelos em linha, incluindo a esportiva Sports Model 351, sua primeira moto com motor OHV (comando no cabeçote) 4 tempos de 350 cc e com alavanca para troca de marchas no pé. Com foco no público feminino, a empresa cria então uma motocicleta com motor dois tempos de 225 cc, que ficou conhecida como “Ladies Model”.
Em 1928, a Royal Enfield adota novos tanques de combustível em todos os modelos, em substituição aos antiquados tanques planos, aqueles sob a viga principal do quadro. E também se torna uma das primeiras fabricantes de motocicletas a adotar o garfo telescópico Girder com mola central, em substituição ao antigo sistema Druid.
A década de 1930 começa com uma gama de onze modelos, desde a Model A de 225 cc 2 tempos, à V-Twin Model K de 976 cc. Novos modelos com motores 350 e 500 cc de válvulas laterais e OHV são introduzidos.
A lendária Bullet, produzida até hoje, surgiu em novembro de 1932, no Olympia Motorcycle Show, em Londres. Eram três versões, com motores de 250, 350 e 500 cc, todos com cabeçotes de duas válvulas e câmbio no pé.
Com a morte de Albert Eadie e de B. W. Smith, o major Frank Smith assume o controle da empresa, e, em 1936, a Bullet 500 é reformulada radicalmente, com o lançamento da versão esportiva JF, com motor de quatro válvulas.
O inovador modelo Z, conhecido como “Cycar”, entra no mercado. Criado para uso no dia-a-dia, essa dois tempos de 148 cc possuía motor completamente encoberto e proteção para as pernas do piloto.
A partir de 1939, a Royal Enfield passa a produzir grandes quantidades de motos, bicicletas, geradores e diversos equipamentos militares para a 2ª Guerra Mundial. O modelo mais famoso dessa fase foi a Airborne 125, a Pulga Voadora (Flying Flea), que ganhou esse nome por ser compacta e leve, para ser lançada de paraquedas dos aviões.
CHEGANDO À ÍNDIA
E, paraleo à renovação das Bullet 350 e 500 no Reino Unido, que compartilham quadro, suspensões e câmbio, surge em 1949, na Índia, a empresa Madras Motors, para importar motocicletas britânicas, como Norton, Matchless e Royal Enfield. O crescimento da marca no continente asiático se deu mesmo em 1952, com a encomenda de 800 Bullets 350 que começaram a chegar no ano seguinte.
Com isso, a Royal Enfield faz parceria com a Madras para formar a Enfield Índia, que resulta na construção de uma fábrica em Tiruvottiyur, inaugurada em 1956 para a produção da Bullet. No sistema de produção adotado, as motos vinham desmontadas em kits (como muitas fábricas hoje fazem em Manaus), sendo montadas 163 unidades ainda naquele ano.
A Crusader 250, com motor de 13 cv, então já com alternador elétrico e bobina de ignição, foi lançada em 1957. Mas o lançamento mais importante da época ocorreu em 1964 com a primeira Continental GT Café no Reino Unido. O modelo tinha tanque de corrida, assento de competição curvado, conta-giros e escapamento especial.
O FIM NA GRÃ-BRETANHA
A fábrica britânica de Redditch é fechada em 1967 e apenas dois modelos são mantidos em produção no Reino Unido, a Continental GT 250 e a Interceptor 736. A produção da Interceptor continua por algum tempo nas instalações subterrâneas da Enfield em Bradford, Avon.
Em 1970 a Enfield Cycle Company encerra suas atividades no Reino Unido e os motores Interceptor remanescentes são vendidos e montados em cerca de 90 quadros Métisse. A produção na Índia continua a todo vapor.
Em 1977 a Enfield India começa a exportar a Bullet 350 para o Reino Unido e a Europa, e em 1989 a marca apresenta a nova Bullet 500 de 24 cv para exportação.
Em 1993, a Enfield indiana produz a primeira moto de série a diesel do mundo, chamada Enfield Diesel. O modelo utilizava motor de 325 cc montado no quadro da Bullet.
O grupo indiano Eicher, atual dono da marca, compra a Enfield em 1994 e passa a denominá-la Royal Enfield Motors. Em 1999, inaugura nova fábrica em Jaipur, no Rajastão.
Em 2002, a empresa lança na Índia a custom Thunderbird, com câmbio de 5 marchas pela primeira vez desde 1965. E em 2008, começa a exportar a Classic, primeira motocicleta com motor EFi de 500 cc.
Uma nova fábrica começa a ser construída em Oragadam, próximo a Chennai e dois anos depois, em 2013, recomeça a produção da Continental GT 535, no estilo Café Racer, 49 anos após a lançamento da primeira GT.
Depois de várias tentativas malsucedidas de associação com empresários brasileiros, foi em 2017 que a Royal Enfield criou sua subsidiária brasileira e começou a importar motos da Índia para o Brasil. Atualmente a Royal Enfield comercializa no país a Himalayan 410, a Interceptor 650, a Continental GT 650 e a novíssima Meteor 350.
É uma pena que nem a montadora indiana e nem as lojas brasileiras façam jus ao peso da marca, motos muito boas para quem tiver sorte, pq se houver algum problema eles ignoram a garantia.