Por: Eduardo Viotti
Menos é mais - A versão XC da Triumph Scrambler 1200 é mais baixa e despojada que a top XE que avaliamos na edição passada. Mas acredite: é tão ou mais deliciosa de pilotar!
Na edição passada, avaliamos a Scrambler XE, topo de gama das clássicas on-off road da marca inglesa. Para esta edição, andamos com a Triumph Scrambler 1200 XC, mais vocacionada ao asfalto e às viagens, com menos apetite para a terra, menos equipamentos e menos eletrônica embarcada.
Esta Scrambler XC também é, por isso mesmo, mais barata que a XE (custa R$ 56.411,00 pela pesquisa da Fipe/USP de outubro, contra R$ 59.415,00 da XE).
A motorização e o quadro são iguais. Mas a pilotagem é completamente diferente. Para começar, a XC é mais baixa, com 5 cm a menos de curso nas suspensões (tem 20 cm em ambas, mais que suficientes para a proposta) e com menor entre-eixos (a balança traseira é mais curta na XC).
O fato é que a Scrambler 1200 XC é bem fácil de pilotar e tem muita maneabilidade nas mais diversas condições. O câmbio de 6 marchas é macio e preciso.
O motor bicilíndrico é muito agradável e forte em uma ampla faixa de rotações. Os cilindros paralelos têm a ordem de ignição a 270 graus, o que distribui melhor o torque ao longo da escala de rotações e favorece a dirigibilidade. Com balanceiros no virabrequim, é macio e silencioso. Com 4 válvulas por cilindro acionadas por dois eixos-comando, desenvolve 90 cv de potência a 6.750 rpm (corta a 7.500 rpm) e tem torque de 11,2 “kg” a 4.000 giros. Apesar da aparência dos cilindros, aletados, tem refrigeração líquida através de um radiador fininho. O consumo médio é da ordem de 21 km/l, ótimo para a cilindrada e performance do motor.
AQUECIMENTO CENTRAL
O escape lateral de dois tubos superpostos confirma o que os olhos suspeitam ao primeiro relance: no trânsito, esquentam a perna de motorista e passageiro. É o tipo de solução que privilegia o estilo e a estética ao desempenho, no caso, o conforto. É bonito, com acabamento primoroso em inox escovado, mas no tráfego urbano é chatinho, pior se estiver um dia quente. E como você pode ver na foto desta página, os escapes paralelos só permitem a instalação de alforjes na lateral esquerda. A mala que veio na unidade avaliada, de fábrica, é um acessório sensacional, impermeável, rígida, muito fácil de retirar e portar. Legal demais!
De resto, é muito confortável. Mesmo o banco, ao estilo “brat”, longo, raso e plano, é bem suficiente para dois ocupantes, mesmo em viagens longas. As suspensões, multirreguláveis na frente e atrás, absorvem bem as irregularidades e mantêm as rodas em contato com o piso. Além disso, em conjunto com os ótimos pneus Metzeler Tourance de uso misto, permitem um grip bem firme ao asfalto, contornando curvas com insuspeitada disposição. As rodas, com aros 21’ na frente e 17’ atrás, são daquele tipo em que os raios (36 na dianteira e 32 na traseira) se apoiam nas laterais do aro, permitindo o uso de pneus sem câmaras, mais seguros em caso de furos.
Mesmo não sendo uma trail (é, nomeadamente, uma scrambler…) a XC permite boas incursões por estradas de terra, não só pelo aro 21 frontal e pelas suspensões com 20 cm de curso, mas pela excelente postura de pilotagem em pé que seu guidão largo (cônico, de alumínio) facilita adotar. Não esqueça que a versão XE, cerca de R$ 4 mil mais cara, é mais adequada ao uso na terra.
Na estrada, a posição ereta é bem confortável e permite permanecer por horas sobre a moto, sem reclamações. Em velocidades elevadas, o vento no peito é bem forte, e a adoção de um para-brisa, vendido como acessório, pode ajudar.
CHASSI REFORÇADO
O quadro das Scrambler é reforçado em relação às demais Bonneville, e recebe agregados de chassi específicos. O garfo upside down Showa tem 45 mm de diâmetro e os tubos externos em preto. A balança traseira, em alumínio polido, é mais longa que nas versões de passeio.
O painel, colorido (TFT) é digital e muito rico em informações, com leitura de conta-giros analógica (simula um ponteiro). Aliás, mesmo nessa versão mais despojada, a Scrambler tem muita eletrônica.
O acelerador é ride by wire, sem cabos, o que permite a adoção de 5 modos de pilotagem (Road, Rain, Sport, Off-Road e a Rider, configurável pelo usuário). Um joystick no punho retroiluminado controla as funções, inclusive o cruise-control, piloto automático que mantém a velocidade de cruzeiro desejada. A embreagem, assistida, é macia.
As luzes são em LED e o bloco óptico frontal, redondo, tem uma eficiente DRL, Daylight Running Light, luz diurna de segurança, que é mais visível que o farol principal das motos. Um bem-vindo carregador USB está disponível.
O sistema de freios é de última geração, com rotores de bom diâmetro mordidos por pinças Brembo monobloco de 4 pistões fixadas radialmente da dianteira. O ABS é comutável para facilitar manobras na terra.
Como em todos os modelos da marca inglesa, o acabamento é impecável, com o uso de materiais nobres, encaixes perfeitos, finalização delicada. Os para-lamas são de alumínio, assim como as tampas laterais, a tampa de tanque estilo antigo e o reforçado protetor de cárter. A chave é presencial e pode ser desligada, uma novidade. A marca apregoa ainda o lançamento de 80 acessórios para o modelo, incluindo conexão Bluetooth para GoPro e celular.
Assim como a Speed Twin recém-lançada, a Scrambler 1200 XC busca ir adiante da definição limitante de motocicleta clássica, saudosista, para apresentar-se como uma boa moto, ponto. Com tecnologia e desempenho de última geração. E, eventualmente, um visual que atende aos ditames da onda retrô. As modas passam, a qualidade fica.
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