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Trial - Pode um esporte de baixa velocidade ser extremamente radical?

Atualizado: 17 de jun. de 2020

Por: Ricardo Couto

Trial - Pode um esporte de baixa velocidade ser extremamente radical? O trial está na raiz do off road e tem manobras inacreditáveis


Bastante popular na Espanha e na Grã-Bretanha, o trial (esporte de superar pedras, árvores, rios e outros obstáculos com motos) surgiu no início do século passado, um pouco associado às dificuldades da vida no campo. Em uma época de poucos caminhos, alguns de extrema dificuldade, eles acabaram virando um desafio, e uma disputa entre proprietários e suas máquinas.

Entre 1909 e 1911 surgia na Escócia o Scottish Six Days Trial (SSDT), prova-teste de velocidade e habilidade que ficou famosa em todo o mundo tempos depois, e de onde nasceu o nome Trial, que significa ensaio, prova ou teste em português e, e inglês, também designa um julgamento.

Após alguns anos de improviso no preparo das máquinas, a partir de 1925 começaram a surgir as primeiras motos produzidas com adaptações especiais, que tinham como características o baixo peso, o elevado nível de torque, e a relação de transmissão mais curta.

Entre meados dos anos 50 e início dos anos 60, alguns fabricantes passaram a participar oficialmente dessas provas, com a estreia das motos inglesas com motor de dois tempos, como BSA, Triumph Tiger Cup 200…

A partir de 1964, a Bultaco desenvolveu uma moto especial para a modalidade, chamada Sherpa T, abrindo uma nova era no esporte. A revolução causada pela marca espanhola foi tanta que as competições de Trial passaram a contar com uma nova categoria, chamada de pré-65, marcando um divisor em relação às motos clássicas. No rastro da Bultaco, vieram outras máquinas com projetos arrojados, como as também espanholas Ossa e Montesa, marca que alcançou muitas vitórias com sua Cota 247.

As provas mais importantes e mais bem organizadas surgiram em 1968, quando foi homologado o 1º Campeonato Europeu, que teve como campeão o legendário inglês Sammy Miller, que venceu o Scottish Six Days Trial cinco vezes (1962, 1964, 1965, 1967 e 1968). O Campeonato Mundial só começou a ser disputado em 1975, com vitória naquele ano do inglês Martin Lampkin, com uma Bultaco.

Ao lado de Bultaco, Ossa e Montesa, as principais marcas da época eram Zundapp, Greeves, Yamaha, Suzuki e Fantic.

Em 1978, o sucesso da primeira edição do Trial Indoor de Barcelona espalhou a modalidade para o grande circuito internacional, que compõe atualmente o Mundial de Trial

Indoor. Em 1984, surgia em Mysceline, na Polônia, o Trial das Nações, disputado por equipes de vários países.

A partir de então começam os campeonatos Indoor em recintos fechados, como ginásios e pavilhões, com obstáculos artificiais. Este tipo de prova, com arquibancadas para abrigar o público, aproximou mais os fãs dos pilotos, livrando-os das interferências climáticas das provas outdoor.

Estava lançada aí a base para o X-Trial, provas de nível mais radical, onde se destacam os saltos de rampas, acompanhados das acrobacias aéreas de pilotos e suas motos.

Atualmente, o Trial europeu e o mundial têm como um de seus principais expoentes o espanhol Toni Bou, que de 1994 a 2014 foi oito vezes campeão do mundo Indoor e sete vezes campeão do mundo Outdoor, além de dez outros títulos conquistados em seu país de origem.

No Brasil, o Trial apareceu na década de 70. Os primeiros praticantes começaram a pipocar em 1975, vindos do motocross, o que originou na criação do primeiro clube de Trial em Minas Gerais e da primeira prova do país. A modalidade tomou impulso em 1978, com as primeiras Honda XL 250, KTM e Huqsvarna importadas.

As trilhas mais famosas ficavam em Minas Gerais, Paraná e São Paulo – neste Estado, foram disputadas muitas provas em localidades como Alphaville, Pico do Jaraguá, Mairiporã e Campos do Jordão.

Com a proibição de importação de veículos e motos a partir de 1976, o esporte arrefeceu. A modalidade esportiva indoor só começou a despontar oficialmente, por volta de 1983, quando uma prova foi organizada em São Paulo pelo empresário Pedro Faus, com o apoio da revista MotoSport.

Como são disputadas as provas

Ao contrário das provas de rali, enduro ou cross, o Trial é uma prova de baixa velocidade, onde o tempo de cobertura do percurso serve apenas como critério de desempate. A prova exige do piloto equilíbrio, destreza e controle de sua moto, além de uma estratégia de prova, de modo a superar todos os obstáculos, como enormes rochas, riachos, lama, morros, troncos de árvore e outras adversidades, sem cometer erros durante o trajeto.

O trajeto da prova é previamente determinado e sinalizado, incluindo zonas de pontuação e de deslocamento. O regulamento permite aos concorrentes percorrer previamente o roteiro, a pé, para fazer um reconhecimento do terreno, e estudar as dificuldades que vai encontrar pelo caminho, procurando sempre a melhor forma de superá-las.

É punido com perda de pontos o piloto que sofrer queda, deixar a moto cair, permitir o motor apagar ou apoiar os pés nos obstáculos ou no chão para retomar o equilíbrio.

Motos especiais

As motocicletas de Trial têm chassi bastante leve e estreito, de modo a permitir passar em locais bem apertados, como entre duas rochas, por exemplo. O tanque de gasolina é reduzido, já que foi concebido para provas de pequenos percursos. O banco tem apenas apelo figurativo – em alguns modelos de competição sequer existe –, uma vez que o piloto é obrigado a ficar de pé o tempo todo sobre as pedaleiras e utilizar seu corpo como pêndulo para escalar rochas, paredões ou em manobras íngremes.

O motor fica instalado numa posição bastante elevada no quadro, criando um enorme vão entre as rodas, para permitir manobras sobre troncos ou rochas, por exemplo, e evitar o contato do cárter (que conta com uma proteção especial de aço) e outros componentes contra pedras ou terreno acidentado. Esse recurso evita também que a moto fique travada na travessia de algum obstáculo mais contundente.

As suspensões são elevadas (assim como o escapamento) e de longo curso, para absorver bem as depressões e saliências dos mais variados tipos de piso.

Os pneus contam com banda de desenho do tipo “todo terreno”, porém com gomos (os chamados “biscoitos”) mais próximos que os ods pneus de motocross. O traseiro tem diâmetro muito maior que o dianteiro, a fim de aumentar a área de contato com o solo em terrenos irregulares ou de baixíssima aderência e com resistência suficiente para suportar toda a carga transmitida pela força do motor.

As motos de competição atuais, em geral, utilizam motores monocilíndricos com potência em torno de 25 cv e 350 cc de capacidade, que permitem um maior controle da máquina em qualquer situação. Com elevado nível de torque e auxiliados por uma relação de transmissão curta, esses propulsores oferecem força de sobra e respostas rápidas e vigorosas principalmente nas baixíssimas velocidades.

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